Sarau do João em Sarau Tropicália: 11ª edição do projeto Domingo no TCA – 22/10/2017

Hugo Gonçalves

Jornalista (SRTE/BA 4507)

Salvador, 8 de março de 2021, Dia Internacional da Mulher

Atualizada em 9 de março de 2021, às 12h46

 

Espetáculo coletivo reuniu mais de vinte artistas, como forma de celebrar os 50 anos do movimento tropicalista
Hugo Gonçalves – 22/10/2017


Encerrando o ciclo de publicações de conteúdo multimídia no Melhores Momentos Musicais, conforme programado, chegamos enfim a esta quinta postagem, na qual se exibe uma compilação de algumas amostras do histórico Sarau Tropicália. Apresentado na Sala Principal do Teatro Castro Alves (TCA) em 22 de outubro de 2017, o espetáculo construído coletivamente agregou mais de vinte artistas inseridos nas múltiplas vertentes, como estratégia para celebrar os 50 anos do tropicalismo.

Assim como o movimento que ajudou a modernizar o cenário artístico brasileiro em todas as suas dimensões, tanto na estética quanto no conteúdo, um dos mais notórios equipamentos culturais de Salvador também completou meio século de inauguração naquele ano. O show festivo, ao qual este jornalista prestigiou e teve a liberdade de captar e selecionar alguns momentos extraídos do seu repertório, integrou a 11ª edição do projeto Domingo no TCA, e proporcionou ao público que aglomerou as milhares de poltronas uma fantástica imersão no universo tropicalista.

Parte do projeto Sarau do João – organizado e coordenado por João Américo, tradicional promotor de saraus multiartísticos na Bahia –, o Sarau Tropicália teve a direção musical do competente maestro Tom Tavares, também apresentador do programa Outros baianos, transmitido pela rádio Educadora FM (107,5 MHz) – emissora do Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (Irdeb), fundação pública estadual – nas noites de terça-feira.

Adentraram o palco do TCA 22 cantores, cantoras, instrumentistas e grupos vocais da cena contemporânea local (confira lista no final desta postagem), somados ao poeta baiano José Carlos Capinan – um dos artífices do tropicalismo, sendo coautor de várias de suas canções-símbolo –, agregando-se em torno de um espetáculo jovial, comemorativo e multiartístico. Além da musicalidade híbrida, cristalizada no repertório do show, o movimento adquiriu profundas influências na poesia, na moda e na ambientação.

As artes plásticas, portanto, também confirmaram presença no Sarau. Várias ilustrações reproduzindo elementos fiéis ao espírito tropicalista, assinadas pela artista pernambucana Simone Mendes, adquiriram progressivamente um colorido especial ao palco a partir da releitura da marcha-rancho Alegria, alegria, de Caetano Veloso. Seus frenéticos acordes iniciais possibilitaram um mutante e hipnótico show de sons, cores e luzes que permeou toda a concepção do espetáculo.

Para o conteúdo audiovisual de 7 minutos e 58 segundos (quase 8 min) ao qual pode ser assistido logo abaixo deste artigo, foram escolhidos três emblemas sonoros da tendência vanguardista e contestadora – pelo fato de ser gestada e desenvolvida no contexto da ditadura militar no País, que vigorou entre 1964 e 1985.

Cantora paraense radicada na Bahia, Cláudia Cunha abriu o Sarau com toda a pompa e circunstância, entoando com seu timbre aveludado as duas primeiras estrofes do manifesto Geleia geral, poema do piauiense Torquato Neto (1944-1972) musicado por Gilberto Gil e gravado pelo baiano no célebre álbum coletivo Tropicália ou panis et circensis (1968), que este jornalista transcreve:

Um poeta desfolha a bandeira / E a manhã tropical se inicia / Resplandente, cadente, fagueira // Num calor girassol com alegria / Na geleia geral brasileira / Que o Jornal do Brasil anuncia

Na sequência, vários convidados do espetáculo tocaram e cantaram, em celebração, a já citada Alegria, alegria. Considerada um dos hinos do tropicalismo, a canção conquistou o quarto lugar no 3º Festival de Música Popular Brasileira (MPB) promovido pela TV Record, na histórica noite de 21 de outubro de 1967 – ao defendê-la, Caetano estava acompanhado do conjunto argentino de rock Beat Boys. No mesmo festival, Gil, ao lado do grupo Os Mutantes – outro ícone do movimento – sagrou-se vice-campeão com a sua Domingo no parque (a canção vencedora foi Ponteio, de Edu Lobo e Capinan, sendo interpretada pelo próprio Edu juntamente com Marília Medalha).

Também foi incluída mais uma pérola tropicalista no vídeo. Trata-se de um fragmento do rock-protesto Divino, maravilhoso, composto por Caetano e Gil especialmente para Gal Costa – que o tornou celebrizado em 1968, em seu primeiro LP individual, batizado somente com o nome da cantora – e reinterpretado no Sarau por Cláudia Cunha.

Como bônus para o encerramento, um emocionado Capinan recitou seu poema Janeiro ainda, escrito mais à frente, na década de 1980 – já no crepúsculo do regime militar. Após declamar cada verso dessa ao mesmo tempo bela e reflexiva obra, o poeta bradou: “Bem-vindo à democracia!”, sob intensos aplausos da plateia. Mas o vídeo termina de fato com uma releitura instrumental, pelo violão de Jana Vasconcellos, do samba Aquele abraço, que Gilberto Gil compôs e gravou em 1969 – quando partiu, junto com Caetano, para Londres, onde se exilou até o começo de 1972.

 

Além da música e da poesia, as artes plásticas também marcaram presença no Sarau, com desenhos da pernambucana Simone Mendes (acima) inspirados na estética tropicalista
Hugo Gonçalves – 22/10/2017


Assista, agora, ao registro no qual são exibidos alguns dos melhores momentos do Sarau do João: Sarau Tropicália, realizado na Sala Principal do TCA em 22 de outubro de 2017, em comemoração ao cinquentenário do tropicalismo. Desse modo, este jornalista deseja a todos e todas que acompanham este blog uma excelente apreciação audiovisual, ao som de clássicos selecionados que contribuíram para moldar as nossas manifestações artísticas, constituindo-se assim uma cultura moderna eminentemente nacional.




Créditos do vídeo

Sarau do João em Sarau Tropicália: 11ª edição do projeto Domingo no TCA

gravado na Sala Principal do Teatro Castro Alves

Salvador, Bahia, 22 de outubro de 2017


músicas selecionadas do espetáculo

Geleia geral (versos iniciais) (Gilberto Gil e Torquato Neto)

Alegria, alegria (Caetano Veloso)

Divino, maravilhoso (trecho) (Caetano Veloso e Gilberto Gil)

Bônus: Janeiro ainda (poema de José Carlos Capinan)


coordenação geral: João Américo

direção musical: Tom Tavares

produção executiva: Rita Basttos


artistas participantes

Alexey Martínez (Cuba), Ana Américo, Banda de Boca, Carlinhos Cor das Águas, Carlos Eládio, Carlos Pitta, Cinho Damatta, Cláudia Cunha, Coro de Cor, Fernando de Oliveira, Hélio Gazineo, Jana Vasconcellos, José Carlos Capinan, Leonardo Barros Reis, Luíza Britto, Lula Gazineu, Maurício Peixoto, Mônica San Galo, Priscila Magalhães, Rita Tavarez, Roberto Carvalho, Tertuliano da Gaita e Tom Tavares


ilustrações no palco: Simone Mendes (Pernambuco)


imagens, fotografias, roteiro, edição e finalização

Hugo Gonçalves – jornalista (SRTE/BA 4507)


música de abertura: “Tropicália”

composição e interpretação: Caetano Veloso

álbum: “Caetano Veloso” (1967)

 

música de encerramento: “Aquele abraço” (instrumental)

composição: Gilberto Gil

interpretação: Jana Vasconcellos (violão)

gravada por Hugo Gonçalves no Sarau Tropicália (Domingo no TCA, 22 de outubro de 2017)


P. S.: Com esta postagem, declara-se encerrado – conforme programado previamente, desde a concepção do projeto – o ciclo de publicações de conteúdo no Melhores Momentos Musicais. No entanto, este blog continua no ar, trazendo se necessário novas postagens multimídia, sobretudo quando os artistas baianos retornarem à agenda de espetáculos após o ainda incerto término da pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2).


Até breve e, parafraseando nosso mestre Gilberto Gil, “aquele abraço”!

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